sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Quando o negro for belo




Uma reflexão sobre como na língua o negro está manchado irremediavelmente é oportunizada com a chegada de Obama ao poder. É o que propõe a jornalista Sandra Russo, do jornal argentino Página/12 ( * ), sugerindo que se estabeleçam algumas normas que permitam àqueles que trabalham com a responsabilidade da informação um necessário cuidado com a linguagem.


Sandra lembra que a reflexão consta de consagrada letra do músico colombiano Andrés Landera, cujo título é bastante eloqüente: “O que acontecerá quando o negro for belo?”. O questionamento de Landera é pertinente face à enorme quantidade de conotações pejorativas, depreciativas e discriminatórias que nos proporciona a fala quotidiana para nos referirmos ao negro.


Os negros são aqueles que têm a pele da mesma cor que tudo o que nos espanta. Qualquer dia da semana inocente se assenta na catástrofe ou na tragédia quando se lhe agrega o adjetivo “negro”, como: “uma quarta-feira negra para as bolsas”. O negro, como a esquerda, diz Sandra, foi deslocado na língua para zonas obscuras e miseráveis. O branco conota pureza o negro trás a idéia de sujeira.


Enquanto o branco é o vestido da noiva, negras são as vestes da viúva. Do mesmo modo, atuar pela esquerda é fazer trapaça, corromper-se, delinqüir. Ir pela direita, em troca, é ser frontal, ter coragem, paciência, moral. E a historia ocidental está escrita por uma mão branca.


É compreensível o pipocar de alegria com a eleição de um afro-americano. Boa ocasião para rever as costuras da nossa língua. Mas, Colin Powell e Condoleeza Rice foram negros aceitos por esquecerem quem eram. Melhor torcer por Obama pelo que prometeu fazer. Não por sua negritude.

Um comentário:

José Roberto Paraíso disse...

Mandou muito bem!!

Sugiro que vc faça um texto no dia 20, dia da consciência negra.